Você não precisa de motivação para treinar
- Melissa Vieira
- 14 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de fev.
Se você já disse algo como "eu só preciso de motivação para treinar", saiba que você não está sozinho. Mas também precisa saber que essa é a abordagem errada. A neurociência e a psicologia do comportamento mostram que a motivação não é o ponto de partida — ela é a consequência. O que você realmente precisa é de um sistema que crie hábito e consistência.
Neste artigo, vamos explorar por que você não pode depender da motivação e como transformar o treino em um hábito automático, com base na neurociência e em estratégias cientificamente comprovadas.

1. O mito da motivação
Muitas pessoas acreditam que precisam se sentir motivadas para iniciar um hábito de treino. No entanto, estudos da psicologia do comportamento mostram que a motivação é altamente instável e influenciada por fatores externos, como humor, níveis de estresse e ambiente (Deci & Ryan, 2000). Se você depender exclusivamente dela, a chance de desistência é alta.
James Clear (2018), autor de Atomic Habits, explica que a consistência é criada através de sistemas, não de vontade momentânea. O segredo não está em "se sentir" motivado, mas em criar mecanismos que tornem o treino um comportamento automático.
2.O papel do cérebro na formação de hábitos
Nosso cérebro é programado para economizar energia. Comportamentos que exigem esforço cognitivo alto são naturalmente evitados pelo sistema nervoso central (Duhigg, 2012).
A boa notícia é que hábitos reduzem esse "custo energético". Quando um comportamento se torna automático, ele é processado pelo gânglio basal, uma região do cérebro que gerencia a repetição de tarefas sem exigir tanta energia (Yin & Knowlton, 2006). Isso significa que, no início, treinar pode parecer difícil, mas quanto mais você repete a atividade, menos resistência seu cérebro cria contra ela.

3.Como tornar o treino um hábito (sem precisar de motivação)
Aqui estão algumas estratégias cientificamente comprovadas para consolidar o hábito do treino:
Comece pequeno
Estudos sobre formação de hábitos mostram que metas pequenas aumentam a aderência a longo prazo (Lally et al., 2010). Em vez de planejar treinos de uma hora, comece com 20 ou 30 minutos diários. Seu cérebro vai aprender que a ação é fácil e não requer grande esforço.
Associe o treino a um gatilho
A teoria do condicionamento de Charles Duhigg (2012) explica que hábitos se consolidam melhor quando atrelados a um gatilho. Pode ser "após escovar os dentes pela manhã, eu treino por 20 minutos". A previsibilidade ajuda a reduzir a resistência.
Crie um ambiente favorável
Ambientes moldam comportamentos. Ter um espaço organizado para treinar e deixar seu material à vista reduz a barreira para a ação (Neal, Wood & Quinn, 2006).
Torne público
O efeito da responsabilidade social é poderoso para a formação de hábitos (Baumeister & Leary, 1995). Compartilhar seu progresso com amigos ou em redes sociais pode ser um incentivo para manter a consistência.
Conclusão
Se você quer que o treino se torne parte da sua vida, pare de esperar motivação. Em vez disso, foque em criar um sistema que facilite a consistência. Pequenas mudanças, repetidas ao longo do tempo, levam a transformações duradouras.
A motivação vem depois da ação. O que você vai fazer hoje para dar o primeiro passo?
Fontes e Leituras Recomendadas Baumeister, R. F., & Leary, M. R. (1995). The need to belong: Desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497-529.
Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2000). The "what" and "why" of goal pursuits: Human needs and the self-determination of behavior. Psychological Inquiry, 11(4), 227-268.
Duhigg, C. (2012). The power of habit: Why we do what we do in life and business. Random House.
Lally, P., van Jaarsveld, C. H. M., Potts, H. W. W., & Wardle, J. (2010). How are habits formed: Modelling habit formation in the real world. European Journal of Social Psychology, 40(6), 998-1009.
Neal, D. T., Wood, W., & Quinn, J. M. (2006). Habits – A repeat performance. Current Directions in Psychological Science, 15(4), 198-202.
Schultz, W. (2016). Dopamine reward prediction-error signaling: A two-component response. Nature Reviews Neuroscience, 17(3), 183-195.
Yin, H. H., & Knowlton, B. J. (2006). The role of the basal ganglia in habit formation. Nature Reviews Neuroscience, 7(6), 464-476.
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